terça-feira, 1 de maio de 2012

Bola de Cristal

- Você pode ver o meu futuro? - perguntou a moça.
- De certa forma. - respondeu a senhora.
- Que forma seria esta?
- Bola de Cristal. Você quer?
- Sim.
- Relaxe, fique de frente para a bola e reflita. E me diga o que vê.
- Eu que digo?
- Sim. O futuro é seu. Só posso te dar instrumentos.
- Mas isso não faz sentido.
- Não faz sentido você ter o controle da sua vida? Como então faria sentido eu tê-lo? Mas não desista. Me diga o que vê.
- Eu vejo eu, olhando para um bola, numa tenda de uma senhora que diz ser vidente.
- Hmmm... Mostra que você está incerta sobre o seu futuro.
- Mas é claro que estou! Se não, não estaria aqui!
- Exatamente. Enquanto estiver incerta seu futuro será sempre esse aqui.
- Mas eu não quero isso. E como faço para ter certeza?
- Você acabou de ter uma.
- Mas como eu mudo isso?
- Tem certeza que é essa pergunta que você quer fazer? “Como eu mudo?” Será que você não quer dizer “que resposta você poderia me dar para mudar isso em mim?”
- Só posso reagir se houver uma ação!
- Você quer reagir a uma coisa que não sabe o que... Não parou para pensar em ser a ação e não a reação? Ou você quer ser a reação para poder ter uma desculpa?
- Você não está vendo o meu futuro.
- Você estava até segundos atrás.
- Você é uma charlatã. Isso não faz sentido.
- Que pena... estava indo tão bem.
- Eu não acho. Não vi moral nisso tudo. Adeus. - disse a moça saindo depressa.
- A moral - começou a dizer a senhora com a esperança de que a moça ainda escutasse - é que as pessoas simplesmente não querem refletir sobre.
A moça ouviu a resposta. Mas nada mudou, pois ela não queria refletir.
Se misturou as folhas secas sopradas pelo vento, ora fraco, ora violento e desapareceu.