sexta-feira, 22 de março de 2013

Lágrima II

Às vezes fingimos que o passado foi bonito. Mas essa atitude só mostra que o nosso presente que é bonito. Bonito o bastante para não querer estragar o momento com o pó e as teias de aranha.
Não sei se fomos obrigados a ver beleza na vida, nos emocionar e chorar para limpar nossos olhos empoeirados e opacos ou se nos acostumamos com a poeira neles e a fantasiamos bela.
Mas uma coisa é certa: Tanto poeiras antigas quanto águas novas nos olhos atrapalham a visão. Mas a poeira, que inventamos ser lindos fragmentos de cristal, esfola e rasga os olhos, enquanto que as águas novas só distorcem momentaneamente uma imagem. Não é difícil se desfazer da poeira quando lavamos nossos olhos com água nova no mesmo instante. Mas é difícil se desfazer quando nos acostumamos com ela e a fantasiamos bela.
Quem dera eu ter os olhos sempre limpos, nem empoeirados, nem encharcados, para eu poder ver as coisas como realmente são.
E cada vez que as águas novas tentam levar a poeira embora, é como se a tirassem de um estado concentrado e a espalhassem mais nos olhos... Uma poeira que, ao contrário do que muitos dizem, não faz parte de mim e do que sou. Uma poeira externa que tocou meus olhos sem eu querer. Já as água novas, são internas, brotam de mim e apesar de que, quando brotam muito e a imagem fica desfocada, é só por alguns minutos e não pela vida inteira.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Risos

Era uma vez dois amantes com riso radiante
Intenso, envolvente e gritante.

Riso originado desses dois amantes
Que foram levados por ventos dominantes.

Levado pelo tempo, levado pelos dias
Levado pelo sopro do casal que sorria.

Aos ares, o riso foi e continuou seguindo
Mas aos poucos também foi sumindo.

Passou por ouvidos alheios que o ouviram
E, de repente, outros risos surgiram.

:)

segunda-feira, 11 de março de 2013

Amada Atsuj


Amada Atsuj era uma moça que estava prestes a ingressar na faculdade, mas ainda tinha muitas Barbies na prateleira do seu quarto. Porém apenas duas eram especiais: A Tinna e A Nelly, por se parecerem, incrivelmente, com Annita e Yllena, suas melhores amigas.
Amada era muito carente e sempre que viajava, levava a Tinna e a Nelly, então ninguém se surpreendeu quando ela decidiu que levaria as bonecas para a faculdade também. E lá foi ela...
Quando chegou, ficou sabendo que não dividiria o quarto com ninguém e ficou feliz por isso porque, geralmente, a achavam esquisita por precisar da presença das Barbies.
O tempo foi passando e tudo estava indo bem... Até o dia em que alguns colegas de Amada decidiram organizar uma festa. E toda turma foi convidada.
Amada foi meio a contragosto. Ela não gostava muito de festas. Mas começou a ficar envergonhada de tanto recusar os convites.
Por não ter intimidade com ninguém, decidiu ficar perto das bebidas... E beber. Um colega que Amada nunca tinha visto sentou ao seu lado e iniciou uma conversa. Foram conversando por alguns longos minutos e devia ser muito tarde porque Amada começou a ficar com sono... Muito sono...
Amada acordou em seu quarto e nem se lembrava de como tinha chegado ali. De repente começou a ouvir vozes escandalosas nos corredores e algumas batidas na porta. Ao abrir a porta do quarto ela ficou desorientada. Havia um monte de fotos suas onde ela aparecia completamente nua! E com um cara!
Ela olhou ao redor e viu poucos rostos com dó ou igualmente horrorizados. Mas a maioria mesmo sussurrava uns para os outros comentários maldosos, uns até diziam que era vingança de algum ex que ela traiu e que agora tinha que arcar com as consequências... Ela começou a gritar que não tinha ex nenhum que foi traído e que provavelmente era o colega deles com quem ela tinha conversado noite passada, mas ninguém nunca tinha visto esse “colega” na turma. Começaram a culpá-la então por ter bebido e provocado a situação.
Não havia mais clima para ela. Voltou para o quarto horrorizada e viu as bonecas... Decidiu voltar para a casa até a questão se resolver.
A questão nunca se resolveu porque até a polícia achava que não passava de uma vingança boba e que ela deveria ter sido mais cuidadosa.
Chegando em casa, ligou para as amigas e decidiu contar o que houve. Mas qual não foi a surpresa ao ouvir da boca de suas próprias amigas que ela provavelmente tinha ido se deitar com o cara e, por falta de experiência, não soube lidar com a situação depois? E, pior: que ela podia contar a VERDADE para elas que elas não a julgariam!
Amada expulsou Annita e Yllena de casa e quando voltou ao quarto e viu as bonecas, arrancou-lhes a cabeça e jogou-as no chão e começou a quebrar as bonecas... Então ela lembrou de uma magia que tinha ouvido falar que se faz com bonecos. E foi pesquisar sobre o assunto.
Acabou conhecendo a magia e resolveu que iria praticá-la com má intenção nas pessoas com quem ela não pôde contar. Mas para praticar a magia era necessário bonecos parecidos com as vítimas.
Com o passar dos anos, motivada pelo ódio, Amada Atsuj abriu uma empresa e começou a fabricar bonecos do jeito que ela queria. Então, quando já tinha todos os bonecos necessários, enfeitiçou-os para que eles e as vítimas estivessem conectados.
Muitos colegas da época da faculdade começaram a adoecer, assim como alguns professores e policiais... E Annita e Yllena. Lenta e dolorosamente, começaram a morrer um por um.
Por fim, Amada queimou os bonecos. Mas a sua motivação não acabou. Ela decidiu que mais gente deveria ter acesso ao conhecimento da magia. E sem se importar com mais nada, decidiu espalhá-lo, mas só para aqueles que comprassem A Dama Justa. De todos os bonecos da empresa “Magia de Amada”, apenas A Dama Justa vinha com o folheto explicativo alterado. Mas era preciso ser realmente como Amada para entender o que dizia o folheto: Se você o lesse, cada palavra, de trás pra frente, entenderia o feitiço.

sexta-feira, 1 de março de 2013

The Slave of the Magic Mirror

- Espelho, espelho meu, quem é mais bela do que eu?

- Tu és a mais bela! Óbvio, nunca saí do palácio, logo, só conheço Vossa Majestade... Ah, espere, ontem uma menina veio me polir. Ela era bela.

- Uma criada? Revele seu nome!

- Eu não sei o nome de vossos criados, Majestade. Tu nunca falas deles.

- Então como era a tal menina?

- Suave, gentil, alegre...

- Não sei de quem se trata. Para mim todos são miseráveis e rudes.

- Era uma menina que tinha lábios muito vermelhos, o cabelo era negro como ébano e a pele branca, branca mesmo, como a neve.

- Branca de Neve!!!

- Não, Majestade, eu disse branca COMO a neve e não branca DE neve. Como alguém poderia ser branca DE neve? Só se ela for um boneco de neve, hehe...

- Silêncio, espelho! Se trata da minha enteada! O nome dela é Branca de Neve!

- Mesmo? Que criativo... Realmente ela era bem branca mesmo, pensei até que estivesse pálida ou que fosse um fantasma, quase morri de medo quando a vi... Até notar que era gentil e...

- Cale a boca, espelho! Agora responda-me: Qual de nós é a mais bela?

- Sem sombra de dúvidas, ela é mais bela.

- Bobagem! Todos sabem que as loiras são as mais belas.

- Não me refiro a beleza física, Majestade. Isso muda com o tempo, os padrões de beleza... Um dia o que está na moda é o cabelo encaracolado, no outro é o liso. Uma hora a moda é o corte em camadas, no outro é o chanel com franjinha, não tem como ser a mais bela porque é algo muito subjetivo. A ideia que fazemos hoje de Afrodite, a Deusa da Beleza, provavelmente não é mesma que os gregos antigos faziam. Ou seja, até a beleza da Deusa da Beleza ficou cafona com o tempo. Irônico, não?

- Mas tu disseste que Branca de Neve era a mais bela!

- Sim. Me referia a beleza do seu interior, do seu coração...

- Então eu preciso ter o coração dela dentro de mim...

- É... Bem... É mais ou menos essa a ideia, Majestade.

- Então vou mandar matá-la e comer seu coração!

- Bem, é... Espera... QUÊ? Não! Não é coração literal! Ela é mais bela por ser mais pura. Afinal é apenas uma criança.

- Então crianças possuem maior beleza... Entendi. Então se eu comer criancinhas ficarei mais bela?

- Não, Majestade! Pelo amor de deus! Para uma criança perder a sua beleza ela tem que estar envenenada, entende? Pelo ódio, pela malícia...

- Envenenada!

- Digo, não dar carinho...

- Sei, sei, não dar coisas de luxo...

- Não, me refiro a não ser tratada como um semelhante.

- Mas isso eu já faço! Não a trato como se fosse da realeza, a trato como criada.

- Sim, mas Vossa Majestade a ignora, a deixa em paz. Não necessariamente a maltrata.

- Então ela precisa de mais trabalho. Vou dar tarefas até suas roupas virarem trapo! Ela não perde por esperar!

- Majestade, me ouça, por favor, não foi o que eu quis dizer... Trabalho não maltrata ninguém e... Não, espere, Majestade! Para alguém se tornar feio é preciso que se destrua sua autoestima... Isso é que é ser maltratado... Majestade? Ah, ela nem me ouviu... Desde que perdeu a autoestima é isso, todos os dias é essa necessidade de ser a mais bela. Era mais bela quando não ligava para esse tipo de coisa. Me pergunto se sou escravo da Rainha ou se é ela que é escrava do espelho... O espelho serve para refletir, fazer ver seus próprios erros para então aperfeiçoá-los. Não para escondê-los e ficar se admirando como se fosse a pessoa mais bela do mundo. Desse jeito ela só se torna mais feia a cada dia que passa.